Saúde mental no trabalho: nova regra manda monitorar riscos e exige atenção de toda a empresa
- Jabuticaba Conteúdo
- 2 de set.
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Profissionais de Recursos Humanos, de Comunicação e de Marketing participam de evento na Jabuticaba para falar sobre as atualizações da NR-1, o papel do líder no ambiente e como a comunicação entra nisso

A saúde mental virou um tema difícil de ignorar hoje em dia. Os números são alarmantes: o impacto econômico global causado por transtornos como ansiedade e depressão chega a US$ 1 trilhão por ano. No Brasil, o cenário não é diferente — na verdade, somos o país latino-americano com a maior prevalência desses dois transtornos. Só a ansiedade afeta cerca de 18 milhões de brasileiros. E, em 2024, os afastamentos relacionados à saúde mental passaram de 470 mil, um aumento de 63% em relação ao ano anterior e o maior índice registrado desde 2014.
Foi esse contexto que levou, em grande parte, o Ministério do Trabalho a atualizar a NR-1, norma que traz disposições gerais sobre segurança e saúde no trabalho. Agora, as empresas precisam identificar e avaliar os riscos psicossociais em seu Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Isso inclui fatores como estresse, assédio moral e sobrecarga de tarefas — e tudo o que pode afetar a saúde mental dos colaboradores.
Quem não se comunica...
Nós, da Jabuticaba, sabemos que colocar essas mudanças em prática não é algo que acontece da noite para o dia. E, como a fiscalização só começa em maio do ano que vem, as organizações têm tempo para se preparar — e isso envolve um processo contínuo de adaptação. Por isso, investir em uma comunicação interna clara e efetiva é o primeiro passo para deixar líderes e equipes na mesma página.
Para falar sobre a importância de as empresas serem cada vez mais transparentes da porta para dentro, reunimos aqui na Jabuticaba um seleto grupo de convidados das áreas de RH, Marketing e Comunicação. No evento "Saúde Mental & Vinho: a difícil arte do equilíbrio", exploramos o conceito de equilíbrio sob três pontos de vista diferentes: saúde mental, liderança e viticultura. Essa, aliás, foi a terceira edição da nossa série que conecta temas atuais ao universo dos vinhos. Na primeira, falamos sobre longevidade e o processo de maturação dos vinhos, e na segunda, o foco foi nas questões ambientais, com destaque para a COP 30, e seus impactos na produção vitivinícola. Na abertura, a professora Ana Cristina Limongi-França, que leciona na FIA e na Poli-USP, trouxe uma visão realista e otimista sobre as atualizações da NR-1. Segundo ela, para atingir a conformidade é preciso agir com delicadeza e humildade, e controlar as expectativas, já que ainda existem muitas dúvidas sobre o que vem pela frente. “É um aprendizado contínuo”, afirmou, ressaltando que se trata de uma oportunidade valiosa para melhorar o ambiente de trabalho e normalizar o diálogo sobre saúde mental nas organizações. Ana Cristina ainda destacou que essa é uma missão que envolve várias áreas da empresa e, se for o caso, até consultorias externas.
"A comunicação interna será peça-chave para preparar as lideranças e engajar as equipes — mas sem sobrecarregar os líderes, que têm o papel de ponte, não de salvadores da causa" Ana Cristina Limongi-França, professora FIA e Poli-USP
Pessoas em primeiro lugar
O segundo convidado, Arthur Diniz, que tem mais de vinte anos de mentorias e palestras para a alta liderança, concorda com Ana Cristina, mas fez um alerta: quem tem equipe precisa estar preparado. “Para quem as pessoas vão recorrer? Na percepção do time, o líder representa a empresa. E, às vezes, o próprio líder pode ser parte do problema”, disse. Para Arthur, o autogerenciamento é um ponto-chave. “Antes de cuidar do time, o líder precisa estar seguro e equilibrado, reconhecendo que não é especialista em tudo e que buscar ajuda faz parte do processo”, disse.

Com a chegada da Inteligência Artificial e de outras transformações, Arthur destacou que a verdadeira força das lideranças está na conexão humana.
"Nossa capacidade de cuidar e de nos conectar é o que nos diferencia. O líder do futuro deverá equilibrar coragem, justiça, sabedoria e disciplina" Arthur Diniz, especialista em liderança
Isso tudo, segundo ele, tem semelhança com a visão do Estoicismo, vertente da Filosofia que postula que felicidade e serenidade são conquistadas com virtude, razão e autocontrole.

Por fim, a jornalista e sommelière Andrea Beller chegou para explicar por que equilíbrio e vinhos têm tudo a ver. Para ela, a resposta é simples: um bom vinho nasce da harmonia entre natureza, técnica e arte. Avessa a apresentações muito teóricas, Andrea convidou os participantes a degustarem três rótulos (um espumante e dois tintos) que selecionou especialmente para a ocasião. Enquanto as pessoas apreciavam os vinhos, Andrea trouxe informações históricas e curiosidades sobre cada um. Ou seja, fez jus ao mote do encontro e fechou a noite, equilibrando informação e descontração. Melhor impossível.