Na contratação, saber se adaptar vale mais do que ser experiente

Essa é uma das conclusões de um estudo sobre tendências do mundo do trabalho da consultoria global Deloitte

Recém-lançado pela Deloitte, o relatório Global Human Capital Trends 2025  acende um alerta para organizações que desejam se manter relevantes em um cenário que combina todo tipo de mudança: social, organizacional e  tecnológica. Com base em cerca de dez mil entrevistas realizadas em 93 países, o estudo revela que o trabalho não será definido apenas pela adoção de tecnologias como a inteligência artificial, mas também pela forma como as empresas irão conectar sua estratégia de negócios ao capital humano.

Entre os muitos dados do levantamento, dois temas se destacam como críticos para a transformação organizacional: a mudança de paradigma na gestão de talentos e a reinvenção do papel dos gerentes.

Experiência prévia não será tão importante

Há décadas o recrutamento corporativo é estruturado em torno de cargos e de experiência. Acontece que esse modelo tem se mostrado cada vez mais inadequado em um mundo onde a inovação é uma constante e as funções se modificam com frequência.

Atualmente,  as organizações vêm enfrentando uma “lacuna de experiência”, ou seja, elas precisam de talentos prontos, mas não oferecem meios para preparar esses profissionais. Segundo o relatório da Deloitte, essa situação pode ser resolvida com uma mudança estrutural: abandonar o foco em histórico profissional e funções, e adotar uma abordagem baseada em habilidades e potencial de aprendizado. 

Mais de 70% dos líderes entrevistados reconhecem a importância das chamadas “capacidades humanas duráveis” - como pensamento crítico, adaptabilidade, colaboração e inteligência emocional -, enquanto 48% consideram a experiência formal um critério importante na hora da contratação. Global Human Capital Trends 2025

Essa transição vai exigir mais do que reformular o descritivo das vagas. Implica em redesenhar estratégias de contratação e de desenvolvimento de talentos, em criar jornadas flexíveis de crescimento profissional e em investir em mecanismos de aprendizagem contínua, como estágios, rotatividade de funções e educação corporativa. Ou seja: estamos falando de uma empresa mais adaptável, mas não por causa da tecnologia e, sim, pelas pessoas.

A liderança intermediária não é mais aquela

Outro ponto de atenção destacado no estudo da Deloitte diz respeito à liderança intermediária. Apesar de sua importância na estrutura organizacional, muitos desses líderes estão presos entre a pressão por resultados e a necessidade de motivar time.

A pesquisa mostra que os gerentes costumam usar cerca de 40% de seu tempo com tarefas administrativas e com a resolução de problemas operacionais. O resultado? Exaustão, perda de propósito e baixa efetividade. A reinvenção proposta pela Deloitte para escapar disso envolve uma mudança no papel dos gerentes, que deixarão de ser apenas executores técnicos para se tornarem desenvolvedores de pessoas.

De acordo com o levantamento, a capacidade mais valiosa para os líderes do futuro será o julgamento, a habilidade de decidir em meio a incertezas, usando, não só a leitura do cenário, mas também a imaginação e a sensibilidade. E uma liderança assim exige competências que vão além das habilidades técnicas, e inclui empatia, escuta ativa, discernimento e visão estratégica.

Outras questões que vão impactar o mundo do trabalho também aparecem no relatório: estabilidade x agilidade, personalização x padronização, entre outras. Navegar em meio a elas não será apenas uma questão de escolher lados, mas de encontrar o ponto de equilíbrio que sustente tanto os resultados do negócio quanto o bem-estar dos colaboradores. Empresas que atuarem dessa forma têm mais chance de prosperar em um cenário em que a vantagem competitiva será cada vez mais baseada em habilidades humanas - mesmo em tempos dominados pela inteligência artificial e por outras tecnologias.

Leia a íntegra do relatório Global Human Capital Trends 2025